sexta-feira, 3 de agosto de 2007

PRONUNCIAMENTO

Sr. Presidente, no último sábado, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, no Parque Adahil Barreto, em Fortaleza, o movimento ambientalista prestou homenagem a Joaquim de Castro Feitosa, o Dr. Feitosa ou Feitosinha. Ele faleceu este ano com mais de 80 anos de idade e durante pelo menos duas décadas influenciou várias gerações de ecologistas. Dr. Feitosa deixou importante legado tanto nos pareceres que elaborou como nos estudos que fez, no Museu Bernardo Feitosa, localizado na cidade de Tauá, na própria criação do Parque Adahil Barreto e, principalmente, na fundação da Sociedade Cearense de Defesa da Cultura e do Meio Ambiente - SOCEMA. No Jornal da ADUFC, Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará, Flávio Torres, também fundador da SOCEMA, publicou artigo intitulado Feitosa, cabra véio. Sr. Presidente, peço a V.Exa. que autorize, no momento em que prestamos esta homenagem, a transcrição do referido artigo nos Anais da Casa. ARTIGO A QUE SE REFERE O ORADOR FEITOSA, CABRA VÉIO Nos anos finais da década de 70 o movimento ecológico da sociedade civil organizada dava os seus primeiros passos. A liberdade de organização, permitida pelo governo militar, era ainda restrita e a questão ecológica era vista com uma certa desconfiança, até mesmo pela esquerda organizada. Quando o José Lutzenberg já havia criado a AGAPAM, no R. G. do Sul, um grupo de jovens professores da UFC, estudantes e profissionais liberais movimentavam-se, no Ceará, para criar a SOCEMA - Sociedade Cearense de Defesa da Cultura e do Meio Ambiente. As reuniões eram realizadas na Casa Amarela, cedida pelo Eusélio Oliveira, e ocorreram motivadas por duas questões que surgiram simultaneamente: a anunciada derrubada dos coqueiros da "Volta da Jurema", para a construção do "Interceptor Oceânico" (eta nome pomposo para esgoto), e um projeto de "Capinação Química" da Prefeitura de Fortaleza, onde herbicidas seriam lançados nas ruas, para acabar com a tiririca, que nasce no meio fio e dificulta a varredura das ruas. Em seguida veio a briga pela desapropriação da área do Parque Adahil Barreto, contrariando planos do BNB e Prefeitura de Fortaleza. Logo nas primeiras reuniões, apareceu-nos o Dr. Joaquim de Castro Feitosa, da geração dos nossos pais, e, de um modo geral, desconhecido de todos nós. Depois foi que descobri que ele era amigo de meu pai, pelas raízes comuns de Tauá. O grupo, constituído, em sua maioria, de médicos, farmacêuticos, biólogos, físicos, arquitetos, além dos estudantes, logo se rendeu à figura do Dr. Feitosa, como era tratado por nós, tornando-se o nosso primeiro e eterno Presidente. Na verdade, o Dr. Feitosa estava adiante de todos nós, pois eram estas suas antigas preocupações. Confiando na minha memória, creio ter sido dele a insistência de se inserir a defesa da cultura no nome e no elenco dos objetivos da sociedade que nascia. É que ele, ao mesmo tempo em que escrevia nos jornais sobre a preservação dos solos e dos perigos das monoculturas, já colecionava, em Tauá, e os expunha na sala de visitas de sua residência, objetos de civilizações anteriores, que hoje compõem o museu por ele criado. Convivemos muito tempo, viajamos e estivemos juntos em muitos embates. Colecionamos muitas derrotas e, surpreendentemente, algumas conquistas. Dele, ficou a lembrança da sua juventude nas idéias e do seu otimismo perante a vida. Tornamo-nos amigos e mais recentemente, quando eu o procurava em sua nova casa de Tauá, sempre ouvia dele: quê que há, cabra véio? Bom, cabra véio, por aqui, nesse 5 de junho de 2004, tá faltando você. Flávio Torres